quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O NASCIMENTO DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL E RECREATIVA DE MOURILHE

Entendi, logo na primeira vista a este nossa espaço, que falta um pequeno historial da nossa colectividade. Por que razão nasce, que motivações houve, que passos se deram?!... Dado que tenho escrito um despretensioso memorial da ACRM, num trabalho mais amplo que um dia pretendo dar à estampa, dele respiguei estes parágrafos, que ora partilho com os visitantes do blog.
Havia razões para nos preocuparmos com a falta de um espaço onde pudéssemos dar largas a motivações sócio-culturais e outras. Em 1 de Janeiro de 1971, um grupo generoso de mourilhenses encena um espectáculo de variedades de inegável mérito e qualidade, que apresentou em S. Tiago de Cassurrães, Mesquitela e esgotou o Cine Teatro de Mangualde e que, por falta de espaço, não foi apresentado em Mourilhe. Dele prometo escrever um dia destes.
Vamos constituir uma colectividade recreativa e cultural?... Não importa quem deu o grito, quem pôs a questão ou quem deu o pontapé de saída. Importa dizer é que se uniram vontades, que se desfez o mito do impossível e do difícil e Nelson Amaral Veiga, António Martins Augusto, António Augusto Dias do Couto e Mário António Dias Tomás ensaiaram os primeiros passos daquela que viria a ser a Associação Cultural e Recreativa de Mourilhe.
Reuniões preliminares com convocatórias feitas à população, foram acontecendo na escola primária, com espírito sensibilizador que viria a motivar e a interessar toda a população. Removidas algumas montanhas burocráticas, a 15 de Novembro de 1982, no Cartório Notarial de Penalva do Castelo e perante o notário Dr. Sebastião Marques Antunes, é constituída a Associação. Foram outorgantes na escritura de constituição, Nelson Amaral Veiga, José Vitorino Loureiro Martins, António Martins Augusto, António Augusto Dias do Couto, Mário António Dias Tomás, Manuel Martins Ferreira, Amadeu Lopes Martins, Joaquim António Lopes Martins, Armindo Martins Ribeiro, Ernesto Marques, José Marques e Joaquim Martins Ferreira. Porquê estes? -Porque o mínimo de outorgantes, pelo menos ao tempo, necessários à constituição da colectividade era de doze e foi por tal razão que este punhado de voluntários se deslocou até Penalva do Castelo, para de lá trazer a Associação Cultural e Recreativa que, poderemos dizer, foi a primeira no género, legalmente constituída no concelho. Depois outras seguiram os nossos passos, algumas até com os nossos ensinamentos.
No entanto, se uma grande montanha estava removida, havia uma cordilheira à nossa frente que éramos forçados a transpor, já que só transpondo-a se podiam cumprir os objectivos que presidiram à constituição da colectividade. Era a construção da sede. Numa primeira assembleia instaladora, foram eleitos os corpos sociais, que ficaram assim constituídos:
Assembleia Geral:
Presidente: Armindo Martins Ribeiro
Vogais: Joaquim António Lopes Martins
Amadeu Lopes Martins
Conselho Fiscal
Presidente: Luis Fragoso Ribeiro
Vogais: Horácio Rodrigues
José Marques
Direcção:
Presidente: Nelson Amaral Veiga
Vice-Presidente: António Augusto Dias do Couto
Tesoureiro: António Martins Augusto
Secretário: Mário António Dias Tomás.

Naquela mesma assembleia ficaram desde logo mandatados os elementos da direcção para envidarem os melhores esforços e perseguirem os mais variados objectivos, no sentido de se conseguir terreno e nele se edificar a sede. Não foi uma tarefa fácil, porque Mourilhe não tinha assim à mercê tantos terrenos como isso, e os que eventualmente poderiam satisfazer os fins em vista, os seus proprietários não abriam mão deles com facilidade. Depois, a direcção partia mesmo do nada, do ponto zero, sem um tostão sequer para tomar qualquer iniciativa, que lhe permitisse oferecer dinheiro ou encarar mesmo a hipótese de adquirir um terreno por título oneroso. Opiniões, eram naturalmente as mais diversificadas, a direcção não podia ceder a pressões e era imperioso que seguisse numa directiva certa, objectiva, oportuna e benéfica para os nossos intentos. Iniciava-se a fase de loteamento do prédio rústico designado por Vale do Forno, pertença ao tempo da Srª. Dª. Maria Adélia Carmona e Silva Pessoa, de Mangualde. Aquela senhora já havia vendido à Câmara Municipal o terreno para a construção da escola, e foi à porta dela que os elementos da direcção foram bater. E a Senhora Dª. Maria Adélia doou à Associação, que o mesmo será dizer ao povo de Mourilhe, o terreno onde hoje se ergue o ex-libris desta aldeia - a sede da A.C.R.M.
Começar do nada é sempre difícil, mas se ao nada juntarmos o desânimo, então a dificuldade aumenta e o espectro do impossível nunca mais nos larga. Começaram a surgir as primeiras respostas ás solicitações que íamos fazendo e as mais expressivas vieram da Câmara Municipal da presidência do Dr. Mário Manuel Videira Lopes, da Fábrica de Camisas Sagres por intermédio do seu administrador e mourilhense Sr. José Vitorino Loureiro Martins e do Governo Civil de Viseu, na pessoa daqueles que foram ilustres governadores, o Sr. Álvaro Barros Marques de Figueiredo, já falecido, e o Sr. Dr. António Soares Marques, cuja amizade comigo permitiu muita generosidade. Que me desculpem todos os mourilhenses cuja generosidade foi ilimitada, por eu não referir aqui o nome de cada um. Mas foram todos a contribuir, uns sempre mais que outros como em tudo, mas em todos havia a vontade de ver erguida a obra. A direcção tudo fez, de tudo se socorreu, tudo tentou e a obra até mereceu a honra da visita de um ministro, que gostou e prometeu, mas poder-se-á dizer que a montanha pariu um rato.
A história é simples. Governava ao tempo o país um governo chamado do Bloco Central, presidido pelo Dr. Mário Soares, sendo ministro da cultura o Dr. Coimbra Martins. O presidente da Câmara Dr. Mário Videira Lopes, alerta-nos da visita do Ministro da Cultura ao concelho de Mangualde, e que se nós entendêssemos por bem, ele forçaria uma paragem em Mourilhe na sua deslocação à ermida da Senhora de Cervães e visitaria as obras da sede da associação. Claro que a direcção aceitou de bom grado a ideia e tratámos de organizar um dossier para entregar ao ilustre governante. Era num domingo cuja data não consigo precisar, e a comitiva chegou por volta do meio-dia. Meia dúzia de foguetes saudaram o insigne visitante, que verificou as obras em curso, dialogou e recebeu o processo que lhe tínhamos preparado. De volta, e passado bastante tempo, recebemos a módica importância de 150 000$00. Esperávamos bem mais, e daí que se possa dizer que a montanha pariu um rato.
Nem por isso o desânimo se apoderou da direcção e das gentes de Mourilhe, e a obra lá foi andando por forma a poder ser inaugurada no dia 8 de Dezembro de 1985, a oito dias de eleições autárquicas, que contribuíram, marcadamente, para a escolha da data.
Foi uma festa simples, participada e empenhada. Pelas catorze horas e trinta minutos, chegou a Mourilhe o presidente da Câmara, Dr. Mário Videira Lopes, acompanhado de alguns vereadores, designadamente dos que então se sentavam na bancada da oposição. Após a bênção das instalações, pelo pároco Revº Pe. Joaquim Lopes dos Santos, o presidente da Câmara descerrou a placa comemorativa do acto, a que se seguiu uma visita às Instalações. Uma sessão solene, marcaria oficialmente a inauguração da sede. O primeiro orador foi o presidente da direcção Nelson Veiga, que saudou os visitantes e deu conta dos árduos caminhos que houve que percorrer, para se ter chegado ali e fez votos para que a casa então inaugurada, fosse verdadeiramente uma casa de cultura., de encontro e de convívio. Encerrou o presidente da Câmara, Dr. Mário Videira Lopes, que disse das razões pelas quais, desde a primeira hora, apoiou a construção deste edifício.
Durante a tarde a Tuna Convívio de Santiago de Cassurrães exibiu-se no palco da colectividade, e à noite, um espectáculo de teatro e variedades, feito com prata da casa, encerrava as comemorações. E assim ficou feita a obra, fruto de muito trabalho, de muita persistência e de muita entrega. É um legado para os vindouros, sobretudo para as camadas jovens, a quem compete dar-lhe vida, promover e continuar.
Dois fortes esteios, já não fazem hoje parte do número dos vivos. A vida prega-nos às vezes partidas que a custo aceitamos, pois foi com imensa mágoa que vimos partir, tão precocemente, o António Augusto Dias do Couto e o Mário António Dias Tomás, quando ainda tinham tanto para dar à associação. Na edificação da sede da ACRM eles puseram todo o seu entusiasmo e uma ilimitável dedicação. A morte roubou-os ao nosso convívio, mas a sua presença estará sempre connosco e jamais poderá ser desligada desta colectividade.

Nelson Veiga

6 comentários:

  1. Na qualidade de Presidente ACRM, manifesto publicamente, através deste bolog, o agradecimento ao meu amigo Nelson Veiga, Presidente Fundador da ACRM, a disponibilidade e espontaneidade com que escreveu a História do Nascimento da Associação.
    O relato aqui apresentado traduz de forma bem clara todos os passos que foram dados para a criação da nossa Associação e a vontade de uma geração, que um dia sonhou criar um espaço de cultura e que soube ultrapassar todos os obstáculos e dificuldades para que o sonho fosse uma realidade.
    É de extrema importância que a História das coisas se vá contando e escrevendo, para que as gerações presentes e futuras entendam e valorizem o contexto sócio-cultural em que estão inseridas e ao mesmo sejam os continuadores das gerações mais antigas, no progresso e desenvolvimento da nossa comunidade, de forma a fazer da nossa terra um lugar cada vez melhor para se viver.
    Os Mourilhenses estão gratos a todos aqueles que estiveram na génese da ACRM e a forma de lhes prestar a merecida homenagem é dar vida, dia após dia, à Associação, com múltiplas actividades culturais, recreativas e desportivas, justificando assim o objectivo com que foi edificada.
    José Tomás, Presidente ACRMourilhe

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  2. Bom trabalho, que veio enriquecer o nosso blog.Não pude evitar que uma lágrima por outra deslizasse pela minha face.Quantas recordações!...Tudo isto é prova de que a união faz a força.Queridos amigos vamos continuar unidos esquecendo a idade- que não perdoa- mas com o mesmo espírito de iniciativa, de mãos dadas e algo de bom continuaremos a fazer.
    Maria da Graça

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  3. Houve momentos de muita alegria mas tambem alguns de tristeza pelas muitas dificuldades que tiveram de ser superadas.Resta a certeza do dever cumprido a favor dos Mourilhenses.Quanto aos foguetes foram de facto cinco dúzias que custaram cinco mil escudos. Toneca

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  4. boa!! com certeza! já coloquei o link
    força para a associação! tudo de bom!
    abraço
    Nuno Cabral

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  5. amigos,
    vi o vosso blog e gostei muito,continuem com força.
    Ja vos meti no meu blog e se voçes bem entenderempodiao meter o meu no vosso,
    podera ser util a todos os mothards
    obrigado
    http://motojunior.blogspot.com/

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  6. Sábias, estas palavras, espero que continuemos em frente e que os obstáculos não nos façam perder a força, muito pelo contrário, nos ensinem e nos fortaleçam!
    Força ACRM!

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